quarta-feira, 31 de maio de 2006

Há Paradoxos no Amor?

O termo promessa aliado ao termo moral é melancolicamente_cruel, não fosse pela parcela moral que nos norteia a vida o que aconteceria com a continuidade do que sentimos? Em sua reversibilidade filosófica-moral? "Prometer" lembra Prometeu, uma promessa é pois como a pedra de Sísifo que vai e vem incessantemente pelas flutuações da vida. Uma promessa, um peso? Aqui cabe Raul Seixas: "porque quando jurei meu amor eu traí a mim mesmo, hoje eu sei, que ninguém é feliz neste mundo tendo amado uma vez..." Tudo que uma mulher deseja mais do que qualquer outra coisa quando ama profundamente é ter a insana certeza de que o amor será para todo o sempre, sim, desejamos uma certeza pela qual, no instante em que a desejamos, daríamos a vida, desejamos o amor eterno do homem que amamos, tememos que a vida tente algumas “coisas” para acabar com o amor, tememos que o destino não tenha incluído em nossas vidas a continuidade do amor. Desejamos & tememos, tememos & desejamos. Não conheci nenhum ser humano que fosse tranquilo em seu estado de paixões da alma (aqui seria bom ler Descartes, penso, e só penso que seja bom ler Descartes porque existo, logo, é bom e saudável ler As Paixões da Alma) Então, paradoxalmente, o que temos na outra face do amor? O que há ali? Esquecido em meio ao desejo e ao temor, o que há? (aqui deveríamos ler Kierkegaard para o Temor e o Tremor do coração há passagens incríveis que fariam Isolda e Tristão tomarem outro rumo) Há Raul Seixas que leu Nietzsche e temos Nietzsche que soube se ser ler como um ser humano, Demasiado Humano: porque quando jurei meu amor eu traí a mim mesmo, e aqui, o que há? A angústia oriunda de sentimentos diversos, misturados e difusos, a grande antecipação de, como diz Barthes, “um luto que ainda não ocorreu”. O medo, o temor e o tremor de que o amor de quem amo acabe me cai bem, cai bem em todos que amam de forma egoísta. "Ele" não pode me abandonar quando eu ainda o estiver amando, pois eis que sofrerei, então, o desejo da certeza do amor, na verdade, não é para sempre, mas para o tempo em que eu ainda o amar. Vês que egoísta? Mas, algumas pessoas pensam diferente, algumas pessoas amam diferente porque sentem a Vida fluindo em diferenças. Algumas pessoas desejam: que o meu sentimento não vá embora tão cedo, eu desejo sentir o amor que sinto agora por muito tempo, o meu “para sempre” antecipa o luto do meu próprio sentimento e não o dele, o insano do meu amor antecipa meu próprio luto por uma morte que ainda não se deu no dentro-de-mim; algumas poucas pessoas temem: ser abandonadas pelo sentimento que sentem e não pela pessoa que amam; confiam: no amor do outro, mas, paradoxalmente, não confiam na temporalidade de si mesmos. Seria um paradoxo do Amar?
Outro paradoxo na música de Raul: “eu traí a mim mesmo”. Trair a si mesmo por ter amado uma única vez na vida? Ou: ter traído a si mesmo por ter jurado um amor que se sabe, antecipa-se em luto? Porque a sensatez nos diz, também é egoísta jurar amor a apenas um ser humano, é pequeno demais desejar amar uma única pessoa em toda uma vida/existência. Um coração nobre teria que ser capaz, e muito naturalmente, de amar muitas e muitas pessoas, não ser egoísta e permitir que estas mesmas pessoas sejam também amadas por outras. Não é paradoxal jurar um amor que se sabe que pode acabar? Em geral acaba, dizem os entendidos que há diferença entre paixão & amor, a paixão quando acaba se transforma em outros sentimentos como, por exemplo, em amor. É irônico o fato de que nunca ouvi ninguém aplicar essa mesma teoria para sentimentos negativos, tipo a ira e o ódio que habitam a natureza humana. A ira de J. por A. transformou-se em outro sentimento, nunca observei isso na vida de ninguém, sequer ouvi isso dos lábios de uma única pessoa. Só vale mesmo é para o amor, por que será que é assim? Sinto que isto também guarda um paradoxo. Há algo mais implícito nessa promessa de "amor para todo o sempre", há uma confiança cega de que o outro não irá trair (entre outros “ar” “er” “ir”) promete-se um amor que depende em grande parte do outro. E, no entanto, prometer ou jurar é tudo que se quer, de si e de quem amamos, mas é uma promessa onde O mito de Sísifo não cabe, esta pedra pode parar o seu curso, diria que é a pedra que mais parou seu curso no-dentro-do-coração de muitos. Aqui, cai bem o poema “tinha uma pedra no meio do caminho”, sim, estes versos que não fazem sentido para muitos, aqui têm livre curso, inseridos em meio a Sísifo e a uma pedra que pode parar seu curso, independente muitas vezes de ser levada ou trazida para cima e para baixo incessantemente, percebemos a presença de Prometeu no meio do caminho de todos os Sísifos Que Amam Intensamente jurando, nestes momentos, amor sempreterno (sempre_eterno). Ora, Prometeu deu uma esperança aos Sísifos, "tem uma pedra no meio do caminho", que muito embora exija promessas e mais promessas, é a única que pode ser retirada, isso se deve ao devir do próprio mito de promessas. Prometeu sabe que virá sempre outra parecendo tão ou mais bela ou sedutora, com o brilho maior que todas as outras juntas, ele sabe que os Sísifos Que Amam Intensamente não medirão atitudes para tê-la entre as mãos, mas Prometeu sabe também que um dia os Sísifos Que Amam Intensamente, pensarão: “tem uma pedra no meio do caminho, tem uma pedra no meio do caminho” e fiz tantas promessas, mas ela está no meio do caminho. O curso da pedra parará mais uma vez para tudo recomeçar. Lembra aquela famosa frase, “os deuses vendem quando dão”, é o caso de Prometeu dando aos Sísifos algo que possuem a liberdade de "largar" para logo ali adiante "pegarem" novamente. Prometeu deixou uma opção aos Sísifos do amor, podes largá-la, não é necessário que a leves para todo o sempre, mas logo ali adiante outra ocupará seu lugar. As pedras no meio do caminho mudam assim como mudam as promessas, fica-se atrelados a elas de várias formas, afetiva, emocional, existencial, moral, isso vai ao infinito, o fato é que há uma liberdade de amar muitas vezes, mas o contraponto futuro disso torna tudo muito "prometéico". E, embora eu pense derivativamente tudo isso que acabei de escrever de forma lúdica, eu, paradoxalmente, acabo me encantando com promessas, as minhas, as que eu amaria ouvir pela voz dele, as nossas, não sei se temo o dia do "luto", meu ou dele, de que um de nós venha a sentir o coração do outro como “a pedra no meio do caminho”. Só sei da impossibilidade de que para não trair a mim mesma em amor "sempreterno", permaneço assim, flutuando em sensações paradoxais de que no mundo, se existe algo que vale a pena, é trair a si mesmo jurando um amor, um único amor, aquele que sentimos, valeria uma Vida. A “maldição” de Sísifo é, portanto, sábia, de um lado, insana, vista de outro lado. Qual a diferença entre um lado e outro? A diferença está na forma como recebemos a Vida dentro de tudo que há em nós, é a única diferença para a qual, talvez, Prometeu finja dormir e sonhar e se esqueça de vigiar aos Sísifos (as) Que Amam Intensamente.
sANdrA & As Respostas Ao Roose Sobre A Questão_ "O que significa para ti o termo paradoxal?" Ao que ele mesmo classificou como tendo sido a minha resposta algo completamente "marginal", nada acadêmica, portanto, sem nenhum embasamento teórico e filosófico firme. Mas, quem disse que a melhor explicação que posso dar a mim mesma sobre "paradoxal" deve vir do que os outros pensaram para si mesmos? Não desejo viver a vida de outra pessoa de forma alguma, somente a minha.