quarta-feira, 9 de maio de 2007

Fédon de Platão

"Fica sabendo, continuou, meu admirável Criton, que a imprecisão da linguagem, além de ser um defeito em si mesma, produz mal às almas. Importa criares coragem e dizer que é meu corpo que vais enterrar; depois sepulta-o como te aprouver e como te parecer mais de acordo com as leis.
Sócrates — Então, teremos de dar-te o nome de orador?
Górgias — E excelente orador, Sócrates, o que só de nomear me envaidece, se quiseres aplicar no meu caso a linguagem de Homero. Para não ser prolixo, vou usar a linguagem dos geômetras — talvez assim possas acompanhar-me — para dizer que o gosto da indumentária está para a ginástica como a culinária está para a medicina, ou melhor: a indumentária está para a ginástica assim como a retórica está para a legislação; e também: a culinária está para a medicina como a retórica está para a justiça. Essa, como disse, é a diferença natural de todas elas; mas, em conseqüência da vizinhança, sofistas e oradores se misturam e passam a ocupar-se com as mesmas coisas, sem que eles próprios saibam qual seja, ao certo, seu fim, e muito menos os homens. A filosofia, Sócrates, é de fato, muito atraente para quem a estuda com moderação na mocidade, porém acaba por arruinar quem a ela se dedica mais tempo do que fora razoável. Por bem dotada que seja uma pessoa, se prosseguir filosofando até uma idade avançada, forçosamente ficará ignorando tudo o que importa conhecer o cidadão prestante e bem-nascido que ambicionar distinguir. De fato, não somente desconhecerá as leis da cidade, como a linguagem que será preciso usar no trato público ou particular, bem como carecerá de experiência com relação aos prazeres e às paixões e ao caráter geral dos homens."
Grande Platão. Ainda é Assim. Como é que pode? Depois de mais de 25 Séculos...

7 Comentários:

Blogger Tristão disse...

Sandrinha, você anda sumida, brigou comigo? Estou com saudades! Beijos.

12:48 PM  
Blogger Unknown disse...

Olá, Sandra! Sempre bom ter tua visita lá pelos Silêncios... Gosto sim, do Chico, especialemte ler. A voz poética dele é bem melhor que a cantada, única. Esse quê NonSense do Estorvo é inebriante... Já viste o filme adaptado do romance? Bom também. Ótimas filosofias por aqui, hein!? A linguagem é tema que recobre tudo, suas funções dão o prumo do convívio com seres humanos. Então, sejamos criativos e exploradores do além do plano das idéias! Beijo enorme!

8:26 PM  
Blogger Guilherme Franco disse...

O que aconteceria se abandonássemos as contradições?

12:27 PM  
Blogger sandra adria_na fasolo disse...

É uma pergunta muito inteligente, fiquei pensando que eu que estou a todo instante falando em contradições, nunca fiz esta pergunta para mim mesma. A tua pergunta é (não gosto da palavra que vou usar, em todos os casos não me ocorre outra) crucial, pois a contradição é o ponto fraco de qualquer sistema filosófico; a resposta que me dei também parece sem saída(acho que linkei um pouco de Nietzsche, talvez...) não temos como abandonar as contradições, pois seria como se abandonássemos a nossa natureza humana, seria como abandonar a vida em si, somos cheios de contradições sob o ponto de vista do viver, para mim a vida não é como um sistema filosófico. Lembro de um prof. que era brilhante dando aulas sobre Hegel, ele dizia que o sistema hegeliano era o mais plausível de aceitação pois era difícil de encontrar uma contradição (não impossível, mas muito difícil)mas aí precisamos estar dentro do pensamento dele, pensar de dentro de -, criticar de dentro de -, o que implica em uma certa exclusão do que não esteja dentro do sistema, isso já seria uma contradição, não?, se visto de fora da esfera de hegel já estou eu entrando em contradições. Vou pensar mais na tua pergunta, mas acho que estamos (falando meio que sartreanamente) condenados à liberdade das contradições. Obrigada pela pergunta, adoro pensar em coisas sem soluções, é daí que sai a literatura.
Vida linda essa que possuímos, não?
sANdrA

1:47 PM  
Blogger Guilherme Franco disse...

Oi, SANdrA. Respostinha lá no auscultador, também. Pois então - cri que a contradição é uma ocasião oportuna para o próprio abandono. Abandonamos sentidos contrapostos para enriquecer, fortalecer os mais prementes. No entanto: não seria genial, para tal fortalecimento, se em lugar de abandonarmos os sentidos contrapostos, abandonássemos a própria contraposição? Prontamente então não haveria mais nada a ser abandonado, estaríamos completamente dentro - mais um ótimo sentido para o conceito de imanência. Para fins de verdade, um mundo que é imanente deve ser percebido como imanente - deve ser entendido através de uma lógica imanente (hahaha - que proposição bem-humorada! Afinal, como se separaria o mundo da lógica pelo qual o entendemos?). Quanto a ser impossível depôr as contradições - sobretudo enquanto método - eu recomendaria experimentar um pouco de alegre, despreendido empirismo. Afinal, não somos da espécie que diz que algo é impossível antes de tentar, não é mesmo? Outra proprosição engraçada - e o seu mistério está guardado na palavra antes.
Daí vejo a utilidade de trabalharmos numa lógica imanente, já que, apesar das coisas do mundo serem opostas umas às outras, isso se dá menos por diferença de natureza do que exatamente semelhança de natureza. Assim, mesmo que as coisas do mundo sejam opostas, o mundo ou seus desejos não o são - em outras palavras: os seres vivos só contrapõem a si próprios servindo à vida, que não é contraposição - embora a implique para fins de renovação. Ao atentarmos ao sentido da existência - o que por si só não é tarefa das mais simples - de um modo geral isso se torna claro... tomara.

5:56 PM  
Blogger sandra adria_na fasolo disse...

Guilherme,
interessante as tuas questões, muito!
Mas assim, tem uma variada terminologia, para irmos mais fundo em todas estas questões teríamos que definir os termos (estarmos falando sobre as mesmas palavras com os mesmos significados, na filos, os termos são kafkanianos, no sentido de serem mutantes...) bem, delírios à parte: o que é uma contradição?, o que é uma contraposição?, o que significa dizer que o mundo é imanente? (isto seria um pressuposto teu, de que o mundo "é" imanente, uma certeza tua da qual estás partindo para derivar outras coisas; continuando: como seria um empirista adepto de uma lógica imanente?; de que tipo de lógica falas?, de qual empirismo?, o de hume?, poderia o empirismo de hume ser imanente?, se sim, isto faria uma ligação entre um tipo de empirismo (pois além de hume existem outras vertentes) e um tipo de filosofia imanentista (pois aí tem outras várias vertentes), além de que os termos têm significados distintos conforme se decida ir por aqui ou por ali... decidir já guarda pressupostos(e assim caminha a filosofia, ficaríamos meses falando nesses termos para chegarmos em que lugar mesmo? hehe, foi só para te provocar um pouco...)beijo ima_n_ente procê!
(é saudável pensar como nietzsche: tudo, tudo: fábula. somos crianças brincando com outras fábulas, diferentes daquelas de outrora)

11:52 PM  
Blogger sandra adria_na fasolo disse...

Guilherme, não consegui abrir teu blog, tem algo bloqueando a entrada nele.

11:54 PM  

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