sábado, 5 de novembro de 2005

Texto de Samuel Rezende da Obra Terra das Sombras

"A natureza humana é um hotel que hospeda muitos hóspedes: a inveja, o ódio, a vingança, a insatisfação, o egoísmo, a exploração, a dominação, o endeusamento próprio, a desonestidade, o roubo, a violência, a mentira, o assassinato e a loucura. "Sinto-me arrasado. Quisera estar morto. É horrível ter que viver em meio desta humanidade demente, e assistir, impotente, à falência da civilização", palavras do personagem Colas Breugnon, de Romain Rolland. Volte ao jardim do Éden e verá a semente inicial da violência. Caim assassinou seu irmão Abel (Gn. 4:8-16). O primeiro ato de violência regou com sangue o paraíso, e nas páginas da Bíblia você verá o assolamento que ela provoca. Na história humana os relatos apresentam homens matando, assaltando, raptando, odiando_ homens mergulhados no pântano da violência, embriagados com sangue. Porque o homem sem Deus é um ser violento. Pode ser culto, mas torna-se um selvagem culto, escreveu Billy Graham. Um diretor da prisão de Sing Sing disse certa vez que tinha um número suficiente de doutores em filosofia atrás das grades para formar o corpo docente de uma universidade. Para preservar a confiança iluminista na nossa capacidade de resolver todos os problemas humanos, eliminamos a idéia de uma natureza pecaminosa e irremediavelmente corrupta e reduzimos as faltas morais a atos voluntários e conscientes de transgressão contra leis conhecidas, atos que deviam ser controlados. A tradição que era repassada a crianças e adolescentes na geração anterior, buscava a formação do caráter e da capacidade intelectual. Os professores faziam parte da formação moral do indivíduo, encorajando virtudes e impondo restrições a sempre presente ameaça da sedução do pecado e da imoralidade, ensinando juntamente com o alfabeto o respeito ao próximo e vagas noções cristãs. Os professores tentavam mostrar aos alunos o grande drama moral do universo. A luta do bem contra o mal, e o resultado dessa guerra aguçava o caráter e atiçava a curiosidade pelo assunto. Samuel Johnson tinha razão: "precisamos com muito mais freqüência ser relembrados do que instruídos". A virtude e a formação do caráter não são exceções. Nas salas de aulas atuais, erros gramaticais não são corrigidos a fim de que não afetem a "auto-estima" do aluno, que é a matéria principal do currículo escolar. A palavra "culpa" e "não", são consideradas ervas daninhas ao bem-estar mental, um constrangimento artificial do qual devemos nos libertar. A conseqüência é que a nova geração não entende o vocabulário de responsabilidade moral. Não é surpreendente, portanto, que agora vejamos crianças que não mostram qualquer remorso quando violam os direitos dos outros, desde coisas triviais como roubar uma caneta do companheiro da classe até crimes hediondos como matar à bala um colega. A tradição judaica afirma que toda criança é formada por influências conflitantes: um impulso egoísta ou para o mal, e a inclinação para o bem. Para os judeus, o lado bom não surge do nada. É preciso um cultivo adequado desde a mais tenra infância. "Ensina à criança o caminho que ela deve andar; e mesmo quando envelhecer, não se desviará dele". O escritor russo Turgueniev dizia que "A personalidade humana deve ser resistente como rochedo, porque sobre ela tudo se constrói". A linguagem do bem e do mal têm sido engavetada. A mentira têm sido propagandeada na política, nas vendas e em outros setores como algo necessário e prático. Preparar as crianças para as provas é fácil. Prepará-las para ser pessoas de bem é o grande desafio. Talvez esteja na hora de rever os conceitos educacionais. Como certo rabino disse, ao comentar sobre o mal: "A princípio é um viajante e um hóspede. No fim se torna dono da casa".
by Samuel Rezende
Samy, tem tanta ilação preciosa neste texto... a ilação sobre a tradição judaica a qual você se refere lembra muito As Leis de Platão & a menção a Turgueniev acabou me lembrando uma frase da obra Primeiro Amor: "aprende a querer e serás livre"_ eu penso que as pessoas não aprendem isso imersas em uma natureza dualista e não podem ser livres quando há sempre o outro lado com um 'querer' apregoado como livre e que talvez não contenha nada além dos tantos 'hóspedes' aos quais você se refere no início do texto. Que tal: aprenda a querer e te tornarás livre de hospédes pois se me disseres com quem andas (hóspedes?) te direi em quem poderás te tornar. Com qual dos hóspedes passeias com mais frequência pelas manhãs ensolaradas em meio às flores do jardim? Eis...
beijo procê Samy Querido.