sábado, 17 de setembro de 2005

Se a loucura existisse

by Lúcio Packter 25/07/2005 Loucura Se a loucura existisse, talvez nós a encontrássemos cada vez que alguém trabalhasse em algo que detesta e justificasse como necessidade; cada vez que alguém mentisse apenas para parecer estar certo diante dos outros; cada vez que uma criança desistisse de um sonho por influência de quem já não acredita em mais nada.Existisse a loucura e então nós a encontraríamos em quem ergue manicômios, em quem inventa conceitos como a loucura, em quem julga que o outro está errado porque discordou de alguém presumivelmente correto...E se de fato existisse a loucura, então tudo seria ao contrário. Colocaríamos gente desonesta no governo e ainda duvidaríamos da desonestidade mesmo diante de Land Hovers e de dinheiros que brotam em cuecas. Não duvidaríamos de nós mesmos simplesmente porque qualquer louco sabe que o louco verdadeiro sempre é o outro. Caminharíamos tranqüilos de nossas inocências enquanto ergueríamos muros mais altos, cercas elétricas sobre eles, fazendo de conta que tudo vai bem porque a China aditivou a economia do mundo por uns tempos. Ficaríamos calmos na insanidade achando que o desequilíbrio está em quem é diferente e critica o que no fundo sabemos que é, de algum modo, errado. Desaprendemos a criticar pelo cabresto que a educação secular nos impôs com nomes como ética e outras estranhezas que sempre surgem em momentos de conveniência.Mesmo se existisse a loucura, talvez sempre existissem os loucos normais, que são os loucos que assumem os poderes nas instituições e que decidem quem é mais louco do que eles a ponto do merecimento de loucuras extremas como choques, cárceres, internações.Mas, se nada disso existe, então somos apenas infelizes, normais diante das coisas que não têm jeito mesmo. O provável é então tentarmos um mínimo de controle sobre as coisas, sem exagerar, sem negligenciar, uma tensão que não faça arrebentar a corda nem quem a puxa do outro lado, e que nem sempre sabemos quem é.O conceito de loucura é uma das maiores patifarias do humanismo e a salvação de muitos princípios quando tudo o mais ligado, por exemplo, à razão, falhou... In: Jornal da Manhã http://www.jmnet.com.br/mostraconteudo.asp?id=49