segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Uma divagação sobre o Fédon, de um amigo de quem...

... guardo um imenso carinho. Paulo M.
O texto é dele: [...] estou lendo Platão, já que assim queres e me mandas fazê-lo ["Mas um homem sábio sempre desejará estar subordinado a quem é melhor que ele"...por isso vivo te beijando os pés...] Tive um insight ao começar a ler o Fédon. Primeiro porque têm coisas preciosas: Fedon diz que todos estavam lá com Sócrates no dia em que ia morrer... mas... "Platão não estava presente, acho que havia adoecido." Foi a pior desculpa que vi um escritor dar para nào estar junto ao amigo no dia de sua morte!!! Mas o texto é muito interessante. Por razões as mais diversas. Uma que vou te mandar minha foto por debaixo da barriga de um leão no pátio dos leões em Delos. Ai era o centro da confederação grega. Era o tesouro deles. Perto de Mykonos aonde fiquei um tempo. Subi os 360 degraus da montanha para ver as três ilhas que a rodeiam ao longe...senti-me confederado. Eu não sabia do retardamento da execuçào de Sócrates por causa da viagem da barca a Delos para as oferendas em homenagem aos sete jovens pares que Teseu salvara... eu te mandei sete pedras pelos sete dias do més em que nasceste e agora tenho mais um sete que nos liga a Delos- uma ilha que é absolutamente e pequenina como tuas mãos em oferenda. Platão fala coisas espantosas. Que o prazer se harmoniza perfeitamente com a dor que se acredita constituir seu contrário! Ele não é dialético, Sandy, é masoquista. E pior: suicidário. Fédon é um texto de um suicida. Ele diz que "suicidar é proibido..." e "..porque na verdade esse é o caso mais simples de todos e que não comporta dúvida alguma para o homem: saber quando e a quem convém morrer ou viver?" e "Os homens não sabem que os verdadeiros filósofos trabalham durante toda sua vida na preparação de sua morte e para estar mortos; . . .' Nào sei, me deu vontade de começar um livro contigo como se fosse Fedon e ir virando tudo, argumentando e falando dessa coisa estranha que ele fala o tempo todo que é a perda. Acho que Platão tinha ganas de matar quando escreveu esse texto! "... qual o motivo de começares a escrever versos desde que foste aprisionado, tu que jamais os escreveste? ..simplesmente para encontrar a explicação de uns sonhos e para obedecer-lhes...' Sabe aquela coisa tua de literatura filosófica? Taí... esse é o sonho de Platão que ele abandonou e ao qual ele agora volta com carinho.
Penso recomeçar esse diálogo contigo Sandra - Paulo, te encontravas ao lado do Filósofo na prisão, quando ele tomou cicuta, ou ouviste somente a descrição através de Fédon ou... ? Paulo- Eu me encontrava lá e foi real.
[...] fim
Anna K. & Paulo M. não levaram adiante esse delírio de re-escrever Fédon sob um ponto de vista-outro, onde o de Paulo era o de que este diálogo de Platão é um dos primeiros textos suicidários da história da humanidade. Pena, teria sido muito literário & delirante esse exercício filosófico.