terça-feira, 20 de setembro de 2005

LÚCIO PACKTER 11/04/2005 "Um segundo Um segundo é o tempo que se leva para pedir perdão, para esquecer, para lembrar, para mentir, um segundo é o tempo que um segundo leva para ser o que é.Por um segundo perde-se o trem, perde-se a vida, ganha-se alguém; um segundo é o tempo que se leva para sobreviver a algo.Uma parte infinita das coisas leva apenas um segundo para acontecer. Muitas delas precisam de uma eternidade para a maturação, de choques cósmicos, de emoções violentas, de silêncios eternos, e então daquele um segundinho para que enfim se consumam. Esperar muito tempo na fila, aguardar o término da faculdade, acompanhar uma gestação, sonhar, tudo isso necessitará ao final de um segundo ou não se consumará nunca. Posso conceder meia hora para uma pessoa, dez minutos, mas tenho muito cuidado quando alguém me pede um segundo. Porque em um segundo Deus terminou de fazer o mundo, em um segundo surgiu a forma final de Yesterday, em um segundo eu posso me arrepender te ter dado um segundo.Eis talvez um caminho interessante para a vida. Este caminho de não pensarmos em algo como pelo resto da vida, para toda a vida, três horas, uma primavera... pode ficar mais agudo a vida por um segundo, cada segundo o seu segundo, nada de terceiros, quartos, Natal e ano-novo.Se houvesse a cultura do Um Segundo, muitos desatinos não aconteceriam, muitos mundos não acabariam, muita dor passaria logo. Mas este artigo não existiria porque não poderia ser escrito em um segundo. Nem mesmo a vida, o amor, o envelhecer, todas as outras coisas. E não existindo as outras coisas também não existiria o um segundo. Portanto, para se viver a cultura do um segundo precisamos de todos os outros, dos minutos inteiros, das horas eternas. Só assim conseguiremos viver por um segundo."
Anna K. & os primeiros segundos do blog-filos