sexta-feira, 9 de setembro de 2005

Ainda Heráclito & Antigos Manuscritos

Ainda Heráclito & Antigos Manuscritos Heráclito me fez refletir que ... sim, sempre com a alma úmida e embriagada, rodeada de crianças inexperientes. Mas o que Heráclito poderia querer dizer com a expressão ‘criança inexperiente’?, talvez ele destinasse essa expressão a indiferença própria do homem que não tem dentro de si a busca da verdade. E que, no entanto, apesar de possuir uma força contrária ao logos, possui, nesta mesma força, a capacidade de conduzir aqueles que o cercam por um caminho cada vez mais distanciado do conhecimento. Almas-úmidas têm tanta força quanto as almas-não-úmidas na capacidade diretiva?, apenas com direções opostas? ‘Criança inexperiente’, infere-se, pode ter uma força diretiva, só que inversamente ao logos, capaz de nos jogar para longe de todas as verdades, capaz de nos conduzir por um caminho que, como disse Heráclito, não nos permite ‘acender uma luz para si próprio’. Talvez o que ele quisesse, enfim, dizer é, os contrários possuem a mesma proporção e medida para aquilo que conseguem gerar, transformar e destruir, tanto na busca do logos, quanto ao seu distanciamento?, tanto no ódio, quanto no amor?, tanto na força do falar, quanto na do não-falar?, tanto na guerra, existente dentro do devir de cada alma como na paz desse mesmo devir? A metáfora guerra-paz, de Heráclito, talvez deva ser entendida como o nosso tempo interno existencial, a guerra interna de antagônicos a habitar nosso ser e que, por vezes, acaba por desencadear outro devir. Talvez a guerra maior que possa existir é aquela travada dentro de nossos pensamentos, a guerra de nossas próprias idéias, como se mandássemos, aos mesmo tempo, em dois exércitos os quais disputam um mesmo espaço e ora torcêssemos para a vitória de um, ora torcêssemos para a vitória do outro, sem saber ao certo quem deve vencer, mas que um deve, necessariamente, ser o vencedor. Devo então secar a minha alma?, ou estou já tão distanciada pelo meu olhar aquoso, tornando o caminho tão mais úmido do que minha própria alma-úmida?, tão cercada de memórias de crianças inexperientes, facilmente convencida de que o Logos habita não o seco, mas o úmido, que o fogo, traz o conhecimento, mas, na verdade, não traz a paz, nunca poderá trazê-la. Toda guerra tem seu preço, toda paz para existir precisa destruir muitas coisas. Às vezes não suportamos a sensação de "ver" um ‘pensamento’ indo embora, de que destruir um pensamento possa representar um caminho sem retorno para o que sentimos, sem nunca termos a certeza de coisa alguma. Como se uma parte que nos pertencesse há um longo, longo tempo, tivesse que partir para que continuássemos existindo e, então deixamos esta pequena parte ir embora para que possamos permanecer mais um tempo, breve tempo, até que um dia, talvez, escolhamos partir junto para não ficarmos completamente fragmentados por tantas partidas de nosso próprio ser, úmido ou não. Anna Com Sua Alma-Úmida & suas velhas recordações sob um novo ponto de vista de sensações