segunda-feira, 3 de abril de 2006

Intransigência de Mesmas Coisas em Retorno às Coisas Mesmas_Chico Buarque Explica

‘Quando percorremos as bibliotecas, persuadidos destes princípios, que destruição deveríamos fazer? Se examinarmos, por exemplo, um volume de teologia ou de metafísica escolástica e indagarmos: contém algum raciocínio abstrato acerca da quantidade ou do número? Não. Contém algum raciocínio experimental a respeito das questões de fato e de existência? Não. Portanto, lançai-o ao fogo, pois não contém senão sofismas e ilusões.’ Hume. Da Filosofia Acadêmica ou Cética. Segunda Parte. Hume faz uma crítica a todo e qualquer sistema ou pensamento metafísico, ao fogo, na realidade, com todos os metafísicos. Eis que Hume se pergunta assim: "quem é você, diga logo que eu quero saber seu jogo", jogo descoberto, decisão tomada, "eis que chega a roda viva e carrega o destino para lá, roda-mundo, roda-gigante, roda-moinho, roda pião" e o filósofo mais cético e empirista há de conservar seu traço metafísico, pois "vai contra a corrente até não poder resistir/na volta do barco é que sente/o quanto deixou de cumprir" e o filósofo sem a sua "roda-mundo" impulsionará o seu sentido e o da filosofia em direção, qual? Não importa a direção tomada, importa que movido por um pensamento inicial sobre questões metafísicas, mesmo resultando em ceticismo, utilizou-se do pensar para tanto, pensamento-ato-abstrativo-por-si-só; a linguagem, creio, pode ser abraçada por este laço de fita cor-de-rosa na roda-viva do roda-mundo. E no retorno da "roda-mundo" há de cantar seu amor à filosofia: "Amaldiçoei o dia em que te conheci/com muitos brilhos me vesti/depois me pintei/me pintei; me pintei/cantei/cantei/como é cruel cantar assim/e num instante de ilusão/te vi pelo salão/a caçoar de mim/não me troquei/voltei correndo ao nosso lar/voltei para me certificar/que tu nunca mais vais voltar/vais voltar/vais voltar." Chico Buarque cantaria sobre o Amor enquanto Hume o escutaria-em-filosofia e o impulso de todo seu filosofar não-metafísico, ao negá-lo em si mesmo, haveria de negar igualmente que nele pensara e nele perdera-se em abstrações. Se seu "ato de fé" não é metafísico, a forma como os leva a essa não-metafísica sendo não-visível, implora pelo verso "voltei para me certificar/que tu (metafísica) nunca mais vais voltar/vais voltar/vais voltar." Mais metafísico que o invisível de uma linguagem que se move sem que se possa "ver', menos visível que um pensamento pensando a si mesmo e a dúvida de nenhum momento em vida e em pensamentos, se não "rodar-mundo" não cantarás: "chorei chorei até ficar com dó de mim". Passar por esta experiência para negá-la como sendo a sua verdade epistemológica ou ontológica, será que realmente, apesar de toda a filosofia excluiu o dia em que esteve presente no mundo metafisicamente?_ na forma como sentiu, viu, percebeu, observou, pensou a si mesmo? Lembrar talvez já seja um ato metafísico por si só. E se o é, como fazer para não sê-lo? Prefiro os versos de Buarque, ah, como os prefiro, ao menos não sou sofista, ao menos meu ato de fé vai na direção de algo-outro-invisível, serei? sou eu? Sim, muitas coisas em mim assim o são, prega isso também a fenomenologia, mas isso já seria outro laço, outra cor, outra não-metafísica, outra canção de Chico Buarque em outra "roda-mundo" que cantaria "talvez o mundo não seja pequeno/nem seja um fato consumado". Outra metafísica? Será? Substituiu-se o "é" pelo "não", se Hume pudesse colocar em prática seu prazer pelo quantitativo ficaria surpreso de ver que sua questão, simplesmente jogada ao fogo, no século XX é resolvida com a recorrência da "negação", "não's" por todos os lados, assim temos a filosofia do século XX, quando não se resolveu pela morte de algo, se resolveu pela recorrência de "não é"... porque ao menos se não se pode afirmar que algo "é", afirmando que "não é" uma série de coisas, um dia se chega à exclusão de todas e o que sobrar será, será! "O que será que será que andam suspirando pelas alcovas?/que andam sussurrando em versos e trovas/que andam combinando no breu das tocas/que anda na cabeças, anda na bocas/que andam acendendo velas nos becos/que estão falando alto pelos botecos/que gritam nos mercados/Que com certeza/Está na natureza/O que será que será/O que não tem certeza, nem nunca terá/O que não tem conserto/Nem nunca terá/O que será que será/Que todos os avisos não vão evitar/Porque todos os hinos irão consagrar/E todos os destinos irão se encontrar/E mesmo o Padre Eterno que nunca foi lá/Olhando aquele inferno/vai abençoar/O que não tem juízo"_
Chico Buarque & Rio_baldo, nossos filósofos do século XX. E alguns "filósofos" se pensam-pensantes... o que será que será: "o que não tem juízo!"
sANdrA & A Insustentável Não-Leveza da Volta Às Coisas Mesmas_ sempre mesmas sempre coisas sempre! Chegará o dia em que o homem viajará pelo tempo e ainda continuará nessa: "mas, e a metafísica?" Quem Será que será/ Que ainda cantará Buarque?