A obra de arte na era de sua reprodutividade técnica
Resenha do Ensaio_ De Walter Benjamin by sandra fasolo
Neste texto, Benjamin ressalta a questão das teses sobre as tendências evolutivas da arte, nas atuais condições produtivas, como grande expoente da Escola de Frankfurt, o filósofo assumiu como reflexão a teoria crítica da sociedade, a crítica marcada por influências do marxismo, do movimento operário, arte, tecnologia, questões políticas, correntes filosóficas contemporâneas, enfim, todo um universo de acontecimentos nos mais variados âmbitos que precederam a história e também na qual W. Benjamin esteve imerso. Diz ele sobre a reprodutividade técnica: em sua essência, a obra de arte sempre foi reprodutível. Em contraste_ com a forma de reprodução do passado_ a reprodução técnica da obra de arte representa um processo novo, que se vem desenvolvendo na história intermitentemente, através de saltos separados por longos intervalos, mas com intensidade crescente. Ele cita a xilogravura, o desenho, a imprensa, a litografia, a fotografia, como exemplos de uma fácil reprodução de uma mesma obra de arte, esta “extraída” para um número além do original criando infinitas cópias deixaria de ser uma ‘obra de arte’. Também o cinema esteve muito ligado à reprodução da obra de arte através das imagens e da reprodução técnica do som. Isso gera um problema de autenticidade quanto à obra de arte, pois, diz Benjamin: mesmo na reprodução mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui e agora da obra de arte, sua existência única, e somente nela, que se desdobra à história da obra. O que se tem na frente dos olhos não é o original, mas uma obra existencial serial_ como ele mesmo define o objeto reproduzido_ o qual, muito embora contenha lá suas vantagens, não poderá nunca ser tomado no lugar do original. Há uma percepção de mundo que não se refere somente a uma percepção de modo de existir, mas também uma percepção histórica que está em toda a tradição humana da sua época. Benjamin então se pergunta, ‘em suma, o que é a aura?’ Para em seguida responder: a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja. Fazer as coisas ficarem mais próximas é uma preocupação tão apaixonante das massas modernas como sua tendência a superar o caráter único de todos os fatos através da sua reprodutibilidade. O culto, os rituais, o objeto de arte como ídolo se perde na reprodutibilidade, foi assim que as mais antigas obras de arte surgiram, com o fim de culto, para exprimir uma cultura e um significado em determinado povo e lugar, esse modo de ser aurático nunca se destaca completamente de sua função ritual, isto é, há sempre um elemento teológico qualquer que seja. Com a reprodução técnica há uma emancipação da existência da obra de arte com fins que não o de ritual, passa a ter uma função social. Nesse sentido, Benjamin diz que a obra de arte tem ou um valor de culto ou de exposição, quanto menor o valor de culto maior o valor de exposição. No cinema isso é muito poderoso, pois o filme serve para exercitar o homem nas novas percepções e reações exigidas por aparelho técnico cujo papel cresce cada vez mais em sua vida cotidiana. Em seguida, Benjamin analisa o valor de culto e de exposição na fotografia onde se dá algo contrário, pois quando se passa da foto para o homem que aí está este supera a imagem fotográfica, a ‘exposição’, digamos assim, do homem em sua existência é superior ao objeto de sua imagem refletida num papel de gelatina. Há também um valor de eternidade implícito nesse processo, os gregos, pelos instrumentos e técnicas que tinham a seu dispor, realizaram obras eternas, o que significa dizer valores eternos, o que na reprodução em massa não pode ser considerado sob o mesmo ponto de vista, tanto de valor eterno num sentido abstrato, como valor eterno, no sentido concreto de durabilidade. Houve também controvérsias quanto ao valor da pintura e da fotografia no século XIX. Aqui Benjamin coloca uma questão que realmente mostra a crise da arte, pois saber se a invenção da fotografia não havia alterado a própria natureza da arte era sem dúvida mais importante do que saber se a fotografia poderia ter algum valor artístico como uma pintura o tinha. Fotografar um quadro é um modo de reprodução; fotografar num estúdio um acontecimento fictício é outro, pois a arte contemporânea será tanto mais eficaz quanto mais se orientar em função da reprodutibilidade e, portanto, quanto menos colocar em seu centro a obra original.’
No passado, o artista plástico possuía um domínio sobre os conteúdos, objetivos e aspectos plásticos de sua obra, o publico visado pelo artista era também, de uma forma geral, reduzido a um determinado grupo, isto veio a se alterar na arte contemporânea, pois a perda de controle autoral, o alargamento do público alcançado e a transformação inerente da própria materialidade da obra plástica devido a sua fácil reprodução forneceram ao artista, de uma forma geral, outros valores, não mais de culto, mas de exposição e distração. Vive-se uma transferência destes novos valores do dia-a-dia para o campo das suas mais íntimas preocupações. O domínio da vida comum já não é claramente dissociável dos conceitos de tecnologia, e assim, por conseqüência, a arte também não. Onde antes a obra existia como entidade física e única, encontra-se agora descentralizada, multiplicada em inúmeras versões, disponível ao mundo. Já não é possível ao artista reclamar apenas para si os direitos de criação, pois ela se faz ao nível da interação pública. Quanto ao dadaísmo, Benjamin diz que este tentou produzir através da pintura_ ou da literatura_ os efeitos que o público procura hoje no cinema, pois as manifestações dadaístas asseguravam uma distração intensa, transformando a obra de arte no centro de um escândalo, a qual tinha uma exigência: suscitar a indignação pública que atingia, pela agressão, o espectador. Assim, a arte pode servir para contínuas associações de idéias ou pode corresponder aos perigos existenciais mais intensos com os quais se confronta o homem contemporâneo, como em relação ao cinema que não nos mostra o real e também não permite associações de idéias devido à mudança muito rápida de imagens. Benjamin conseguiu pensar e escrever inúmeros ensaios unindo várias dimensões do ser humano num século marcado por grandes transformações sócio-políticas, econômicas, culturais, morais, éticas, etc., sobretudo, analisou o que se “perde” e o que se “ganha” com a evolução do mundo.
Deixamos uma reflexão ao leitor a partir de Benjamin: o partilhante não seria, num outro sentido, como uma obra de arte original?
1 Comentários:
Estou neste momento a fazer uma analise do texto de walter benjamim, "a obra de arte na era da reprodutividade técnica" e durante a minha pesquisa deparei-me com as seguintes dúvidasque gostaria de ver esclarecidas com a sua ajuda:
1. A queda da aura deriva da reprodutividade técnica pode compreender-se como uma reativação do principio originário da imagem como divisão?
2. E o que o autor quer dizer com "imagem como divisão"?
os melhores cumprimentos,
Mariana Ferreira
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