A Heráclito de Éfeso & às mudanças sobre o fogo diante do mar
A Heráclito de Éfeso & as mudanças sobre o FOGO diante do MAR
Fragmento (7). ‘O mundo é um fogo sempre vivo; partes desse fogo são sempre extintas para formar as duas outras principais massas do mundo, o mar e a terra. As mudanças entre o fogo, o mar e a terra equilibram-se mutuamente; o fogo puro, ou etéreo, tem uma capacidade diretiva.’ Entende-se o fogo como sendo o próprio logos de Heráclito, pois conforme observou Aristóteles, Heráclito teve a tendência de descrever a mesma coisa ora como um deus, ora como uma forma de matéria, um princípio único implícito ao movimento como ocorre com o ‘fogo’, que ora se apresenta como a matéria responsável pelo movimento das coisas, ora se apresenta como o logos, ou o deus do qual fala Aristóteles de uma forma metafórica, talvez querendo dizer que o logos é o que tudo unifica e ordena estando acima de todas as outras coisas explicando-as, transformando-as, dissolvendo-as para originarem-se em outras coisas. O fogo puro, ou etéreo, tem uma capacidade diretiva, significa que o fogo foi identificado, provavelmente com uma substância que enche o céu resplandecente e circunda o mundo e isto foi considerado não só como divino, senão também como lugar das almas. A idéia de que alma pode ser fogo e não sopro como Anaxímenes pensara, deve ter auxiliado a determinar a escolha do fogo como a forma reguladora de matéria e com capacidade diretiva. Desta forma, o fogo é naturalmente concebido como verdadeiro constituinte das coisas, garantindo não só a oposição mas também sua unidade. Quando se pretende escrever a respeito da filosofia de Heráclito não se pode deixar de pensar nos opostos ou contrários presentes praticamente em todos os fragmentos. Em oposição ao fragmento anteriormente citado, encontramos no fragmento 117 o seu oposto: Fragmento 117. Um homem quando embriagado, deixa-se conduzir por uma criança inexperiente, a vacilar e sem saber para onde vai, com a alma úmida. Infere-se no fragmento (7) que o fogo/logos/palavra/argumento/discurso/ fornece ao homem a capacidade diretiva de compreender o universo por meio da razão. No fragmento 117, percebe-se que os contrários: o frio e o úmido, correspondem ao oposto do fragmento 7, isto é, ‘ter a alma úmida é, metaforicamente, estar distante do logos, é ter uma alma insuficiente para ver o universo e o seu devir, pois uma alma embriagada não possui direção. Só o fogo/logos pode ter uma capacidade diretiva para o homem. Portanto, aproximar-se do logos conduz a transformar-se em uma alma-não-úmida, para que não se limite a perceber somente o sensível que se mostra diante dos olhos.
O fogo tem assim um significado que se sobrepõe às ondas do mar e ainda que a fogueira esteja com suas chamas sobre a areia úmida diante do mar, o olhar que se fixa nas chamas, sem dúvida, será sempre mais enigmático e dialético que o olhar que repousa em direção a água das ondas.
Anna & as divagações heraclíticas sobre o Luau com Heráclito
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